UM PRÁTICO EM SEU LABORATÓRIO: O PAPEL IDEOLÓGICO DO MÉTODO CIENTÍFICO NO URBANISMO DA CIDADE MODELO CORBUSIANA

Autores

DOI:

https://doi.org/10.25110/educere.v23i2.2023-010

Palavras-chave:

Urbanismo, Le Corbusier, Cidade Contemporânea

Resumo

O presente artigo procura compreender como se dá a relação de Le Corbusier com o método científico durante a composição de sua cidade modelo e como este processo se insere ideologicamente dentro de um discurso que procura superar conflitos urbanos tradicionais como as relações entre o individual e o coletivo, o artificial e o natural e o objetivo e o subjetivo. No caso estudado, o projeto da Cidade Contemporânea para 3 Milhões de Habitantes, embora essas contradições permaneçam latentes dentro do projeto urbano, Le Corbusier reclama para si a legitimidade da isenção científica atribuída a um experimento laboratorial guiado apenas pela razão do qual se afasta toda especificidade e de onde se extraem leis gerais reproduzíveis e eternamente válidas. No entanto, como acontece em todo modelo, Le Corbusier seleciona os pressupostos de seu experimento a fim de atingir um resultado esperado, fazendo da ciência, em vez de um método, o ponto fundamental que permite à sua argumentação transitar por raciocínios por vezes contraditórios. Como em toda obra de Le Corbusier, o projeto Cidade Contemporânea é justificado por um longo discurso publicado em livro (LE CORBUSIER, 2000) onde o autor se coloca como um prático em seu laboratório. Em postura semelhante ao seu debate artístico publicado em Depois do cubismo, livro em que lança as bases do movimento artístico do purismo do qual participou como pintor, Le Corbusier lança as bases de seu projeto através de um raciocínio dedutivo, ou seja, partindo de premissas verdadeiras que só podem levar a uma resposta verdadeira e única. Neste caso, as premissas iniciais tratam das funções desempenhadas pela cidade – habitar, trabalhar, recrear-se e circular – de modo que a cidade seja formalmente uma derivação racional de sua  função. No entanto, embora este discurso aproxime o arquiteto do funcionalismo, teoria estética inaugurada por Sócrates, a prática de projeto conduz ao seu oposto teórico, o formalismo Platônico. Exemplos dessa contraditoriedade são a preferência pela forma pura-geométrica dos prismas, pelo retângulo áureo como proporção do tecido urbano e pela idéia de verdade geral que, evidentemente, não pode ser deduzida a partir de funções uma vez que estas são variáveis e a verdade é, como conceito, eterna. Assim, Le Corbusier busca artifícios discursivos para conciliar a racionalidade do funcionalismo socrático com a eternidade do funcionalismo platônico em um processo ideológico que procura legitimar-se a si mesmo e passa pela reconciliação entre o indivíduo e o coletivo, o homem e o universo, a arquitetura e a busca da verdade arquitetônica.

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Publicado

24-07-2023

Como Citar

QUINTANILHA, Rogério Penna. UM PRÁTICO EM SEU LABORATÓRIO: O PAPEL IDEOLÓGICO DO MÉTODO CIENTÍFICO NO URBANISMO DA CIDADE MODELO CORBUSIANA. EDUCERE - Revista da Educação da UNIPAR, [S. l.], v. 23, n. 2, p. 674–689, 2023. DOI: 10.25110/educere.v23i2.2023-010. Disponível em: https://unipar.openjournalsolutions.com.br/index.php/educere/article/view/10524. Acesso em: 4 dez. 2024.

Edição

Seção

Artigos