REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PESSOAS VIVENDO COM HIV: DO ABANDONO DO TRATAMENTO À MOTIVAÇÃO PARA A RETOMADA

Autores

  • Viviane Michele do Amaral Universidade estadual de Londrina (UEL)
  • Gabrielle Silva dos Santos Universidade Estadual de Londrina (UEL)
  • João Vitor da Silva Nascimento Universidade Estadual de Londrina (UEL)
  • Renata Pires de Arruda Faggion Universidade Estadual de Londrina (UEL)
  • Flávia Meneguetti Pierri Universidade Estadual de Londrina (UEL)
  • Ieda Harumi Higarashi Universidade Estadual de Maringá (UEM)
  • Juliana Helena Montezelli Universidade Estadual de Londrina (UEL)
  • Gilselena Kerbauy Universidade Estadual de Londrina (UEL)

DOI:

https://doi.org/10.25110/arqsaude.v27i10.2023-011

Palavras-chave:

Representações Sociais, Terapia Antirretroviral, Abandono do Autocuidado, Não Adesão ao Medicamento, Enfermagem

Resumo

Introdução: O uso contínuo da terapia antirretroviral é eficiente para interromper a replicação viral causada pelo Vírus da Imunodeficiência Humana impedindo o comprometimento do sistema imunológico e o aparecimento das infecções oportunistas. Estima-se que em 2021, 10,2 milhões de pessoas infectadas pelo HIV não se beneficiaram com o uso dos antirretrovirais em todo o mundo. No mesmo ano esse indicador atingiu 333 mil pessoas, e na esfera municipal de Londrina, 288 pessoas vivendo com HIV encontravam-se em abandono do tratamento. Objetivo: Apreender as representações sociais de pessoas vivendo com HIV acerca do abandono do tratamento e a motivação para a retomada. Percurso metodológico: Trata-se de um estudo qualitativo pautado na Teoria das Representações Sociais de Serge Moscovici. O cenário foi um Serviço de Atendimento Especializado em HIV/aids localizado na região Sul do Brasil. A população foi composta por 288 pessoas diagnosticadas com HIV em abandono do tratamento por período superior a 100 dias. Destas, 250 foram excluídas em função de critérios relacionados a informações cadastrais incompletas ou equivocadas, e aspectos impeditivos do comparecimento ao serviço e de contato. Outras 18 pessoas foram consideradas perdas por desistência.  A amostra foi composta por 20 pessoas que se enquadraram aos critérios de elegibilidade e aceitaram participar do estudo. A coleta das informações ocorreu entre junho de 2021 e junho de 2022 em entrevistas semiestruturadas audiogravadas e transcritas na íntegra. Para análise das falas foi utilizado o discurso do sujeito coletivo. Resultados: Participaram do estudo 20 pessoas vivendo com HIV, sendo 12 homens e oito mulheres, com idade entre 27 e 55 anos. O tempo de abandono variou entre 210 e 1580 dias. A análise das entrevistas permitiu a emersão de 18 ideias centrais e duas ancoragens, as quais foram agrupadas em quatro grandes temas: 1) Abandono do tratamento por questões intrínsecas à pessoa vivendo com HIV; 2) Abandono do tratamento por questões ligadas à terapia medicamentosa; 3) Abandono do tratamento por dogmas sociais; 4) Forças propulsoras para a retomada do tratamento. Considerações finais: A análise qualitativa das representações sociais das pessoas vivendo com HIV indicou que o abandono da terapia antirretroviral é multifatorial, e envolve questões socioculturais, geográficas, familiares e biológicas. É essencial considerar todas as questões que permeiam e impactam as vidas das pessoas vivendo com HIV em abandono do tratamento para além das questões biológicas, viabilizando a implementação de ações que contribuam para a efetividade das políticas públicas de saúde no intuito de estimular a adesão e encorajar a retomada ao tratamento. Almeja-se que esta investigação possa despertar para as questões subjetivas ao universo da pessoa que vive com HIV e estas respeitadas na prática humanizada, voltadas ao incentivo do tratamento contínuo para controle da infecção e promoção da qualidade de vida.

Referências

AMORIM, C.B. et al. Comunicação de notícias difíceis na atenção básica à saúde: barreiras e facilitadores percebidos por enfermeiras. Rev. Gaúcha Enferm. v. 40, e20190017, 2019.

ARAÚJO, K. M. S. T. et al. Avaliação da qualidade de vida de pessoas idosas com HIV assistidos em serviços de referência. Artigo. Ciênc. Saúde Coletiva. v.25, n.6, 2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de DST e Aids. Nota Técnica Nº 208/09. UAT/DST. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2009. Disponível em: http://antigo.aids.gov.br/pt-br/legislacao/nota-tecnica-no-2082009. Acesso em: 20 fev. 2023.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Diretrizes para o cuidado das pessoas com doenças crônicas nas redes de atenção à saúde e nas linhas de cuidado prioritárias. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. 28 p.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais. Cuidado integral às pessoas que vivem com HIV pela Atenção Básica: manual para a equipe multipro¬fissional. Brasília: Ministério da Saúde, 2017. 56 p.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para manejo da infecção pelo HIV em adultos. Brasília: Ministério da Saúde, 2018a. 412 p.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de

Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais. Manual técnico de elaboração da cascata de cuidado contínuo do HIV. Brasília: Ministério da Saúde, 2018b.48 p.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais. Agenda estratégica para ampliação do acesso e cuidado integral das populações-chave em HIV, hepatites virais e outras infecções sexualmente transmissíveis. Brasília: Ministério da Saúde, 2018c. 36 p.

BRASIL. Ministério da Saúde. Relatório de monitoramento clínico de HIV. 2022a. Disponível em: https://www.gov.br/aids/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/2022/relatorio-de-monitoramento-clinico-do-hiv-setembro-2022.pdf/view. Acesso em: 27 dez. 2022.

BRASIL. Ministério da Saúde, 2022b. Dia nacional da saúde. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/05-8-dia-nacional-da-saude/. Acesso em: 18 dez. 2022.

CDC. Centers for Disease Control and Prevention. Panel on Antiretroviral Guidelines for Adults and Adolescents. Guidelines for the Use of Antiretroviral Agents in Adults and Adolescents with HIV. Department of Health and Human Services. 2023. Disponível em:

https://clinicalinfo.hiv.gov/en/guidelines/adult-and-adolescent-arv. Acesso em: 25 mar. 2023.

CORREIA, D. DE J. et al. Capacidade de enfrentamento do paciente diagnosticado com HIV/Aids. Arquivos De Ciências Da Saúde Da UNIPAR, 27(6), 2993–3012. https://doi.org/10.25110/arqsaude.v27i6.2023-054

FREITAS, J. D.; MACIEL R. H. HIV/Aids: evolução e depressão em pessoas soropositivas: uma revisão narrativa. Revista Eletrônica Acervo Saúde. v.13, n.25, 2021.

FUGE. T. G.; TSOURTOS G.; MILLER E. R. Risk factors for late linkage to care and delayed antiretroviral therapy initiation among adults with HIV in sub-Saharan Africa: a systematic review and meta-analyses. International Journal of Infectious Diseases. Artigo de revisão. v 122, P885-904, 2022.

GARRET, T. N. et al. Acceptability of early antiretroviral therapy among South African women. AIDS Behav. v.22, n.3, p.1018-1024, 2018.

GONÇALVES, J. F. et al. Abandono de tratamento de HIV/Aids: experiência do Serviço Social no trabalho multidisciplinar. Revista Serviço Social em Debate, v. 1, n. 2, p. 127-148, 2018.

LAMBERT, R.F. et al. Factors that motivated otherwise healthy HIV-positive young adults to access HIV testing and treatment in South Africa. AIDS Behav. v.22, n.3, p. 733-741, 2018.

LEFÈVRE, F. Discurso do sujeito coletivo: nossos modos de pensar, nosso eu coletivo. São Paulo: Andreoli, 2017.

MOSCOVICI S. O fenômeno das representações sociais. In: MOSCOVICI, S. Representações sociais: investigações em psicologia social. 11a ed. Petrópolis: Vozes, 2017. p.29-110.

MOURA, S.C. et al. Reações adversas aos antirretrovirais apresentadas pelos portadores de HIV. Research, Society and Development, v. 10, n. 3, 2021.

OLIVEIRA, L. S. et al. Adherence to antiretroviral therapy and correlation with adver-se effects and coinfections in people living with HIV/Aids in the municipality of Goiás State. Rev. Soc. Bras. Med. Trop. V.51, n.4, 2018.

RODRIGUES, J.S.; FONSECA, L. C.; ALMEIDA, T. A. N. C. Avaliação da imunidade celular do CD4 no combate ao vírus do HIV. Revista Saúde em Foco. V. 10, 2018.

SANTOS, A.P. et al. Instrumentos para avaliar a adesão medicamentosa em pessoas vivendo com HIV: uma revisão de escopo. Rev. Saúde Pública. V.56, p.112, 2022.

SILVA, L. A. V.; DUARTE, F. M.; LIMA, M. Modelo matemático para uma coisa que não é matemática: narrativas de médicos/as infectologistas sobre carga viral indetectável e intransmissibilidade do HIV. Physis: Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 30, n. 1, 2020.

SHABALALA, F. S. et. al. Understanding reasons for discontinued antiretroviral treatment among clients in test and treat: a qualitative study in Swaziland. J. Int. AIDS Soc. v.21, n.4, e25120, 2018.

SOUTO, C. N. Qualidade de Vida e Doenças Crônicas: Possíveis Relações. Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v. 3, n. 4, p. 8169-8196, 2020.

UMEOKONKWO, C.D; ONOKA, C.A; AGU, P.A. Retention in care and adherence to HIV and Aids treatment in Anambra State Nigeria. BMC Infectious Diseases, 2019. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31331280/. Acesso em: 23 dez. 2022.

UNAIDS. Join United Nations Program on HIV/Aids. Global Aids Strategy 2021-2026: End inequalities, end Aids. Genebra: UNAIDS. 2021. Disponível em: https://www.aidsdatahub.org/resource/end-inequalities-end-aids-global-aids-strategy-2021-2026#:~:text=Global%20AIDS%20Strategy%202021%2D2026%20is%20a%20bold%20new%20approach,accessing%20life%2Dsaving%20HIV%20services. Acesso em: 27 dez. 2022.

UNAIDS. Join United Nations Program on HIV/Aids. Estatísticas globais sobre HIV. 2022. Disponível em: https://unaids.org.br/estatisticas/. Acesso em: 27 dez. 2022.

YOO-JEONG, M. et al. A Systematic Review of Self-Management Interventions Conducted Across Global Settings for Depressive Symptoms in Persons with HIV. AIDS Behav. v 27, p. 1486-1501, 2022.

Downloads

Publicado

23-10-2023

Como Citar

DO AMARAL, Viviane Michele; DOS SANTOS , Gabrielle Silva; NASCIMENTO , João Vitor da Silva; FAGGION , Renata Pires de Arruda; PIERRI , Flávia Meneguetti; HIGARASHI , Ieda Harumi; MONTEZELLI , Juliana Helena; KERBAUY, Gilselena. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PESSOAS VIVENDO COM HIV: DO ABANDONO DO TRATAMENTO À MOTIVAÇÃO PARA A RETOMADA. Arquivos de Ciências da Saúde da UNIPAR, [S. l.], v. 27, n. 10, p. 5603–5623, 2023. DOI: 10.25110/arqsaude.v27i10.2023-011. Disponível em: https://unipar.openjournalsolutions.com.br/index.php/saude/article/view/10606. Acesso em: 16 nov. 2024.

Edição

Seção

Artigos